sábado, dezembro 17, 2005

Um poema de Lacyr Anderson Freitas & Miles Davis com All Blues

Pequeno Diário da Palavra

“Toda a palavra tem um oco
uma fenda uma avessa
claridade
de onde as formigas emigram.

Há gravetos, conchas vocabulares,
acentos à paisana, vírgulas úmidas e bivalves.

Um vento antigo
tange as crases desse poema, arrasta
os pontos de exclamação pelos cabelos.
Estende-os para secar
o sol mais triste de seu nome.

O meio-dia a esmo
bate a sua orelha na cancela.

Toda a palavra tem sexo e sintaxe,
um amarelo em luta
com as folhas mortas no terreiro.

Alfabeto crivado de dízimos
onde não se pode tagarelar
sem doer um grão de arroz
por sob a língua.

Palavra carece de pátria
lugar de raiz e eleição.

Onde adensa sua espera, duas borboletas
grifam a giz a paisagem.”

- pág.41, Terra Além Mar, antologia poética de Lacyr Anderson Freitas, edição Pasargada e Ardosia





(Ai, deixa-me cá ver se a música fica bem com o poema, que no outro dia levei uma abada da Joana. Hum, sim, definitivamente, fica bem! E, em minha defesa, pode sempre dizer-se que Miles Davis vai bem com tudo.)

2 comentários:

mines disse...

acho que precisamos de falar com a administração do condomínio sobre este espaço em branco...que coisa esquisita...será preciso aumentar as rendas?

.j. disse...

espaço em branco? nao vejo nada.

.j.