vou fazer um filme, pai
“Dois ou três discos, uma gravata porque já era um homem e a grande ideia do pai, uma ida ao cinema. Era uma fita de índios e cowboys, com mesas reviradas, ruas inteiras a arder, zumbidos, cadáveres, cavalos tombando e relinchando e uma rapariga morena na garupa, o beijo final. O fascínio, a exaltação, o coup-de-foudre.
- Vou fazer um filme, pai.
Assim mesmo. Não houve segmentos nessa decisão.
- Vou fazer um filme, pai.
- Óptimo. Sais do quarto e vais para a rua filmar índios e cowboys?
- Vou filmar todos os zumbidos, todos os beijos, todas as pessoas.
- Óptimo. Amanhã compro-te uma máquina fotográfica para ires treinando.
- Uma máquina fotográfica não capta os zumbidos, não capta o movimento. Vou fazer um filme, pai.
- Óptimo. Amanhã compro-te uma máquina de filmar.”
-pág 30, A Construção da noite de Julieta Monginho, Dom Quixote
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