quinta-feira, janeiro 26, 2006

ainda sobre as velas que ardem até ao fim

“- Era cidadão inglês – repete Konrád embaraçado. – Uma pessoa não pode mudar a sua pátria em cada década.
- Não – diz o general concordando. – Penso que uma pessoa não pode mudar a pátria de modo nenhum. Só pode mudar os documentos. Não pensaste assim?
- A minha pátria – responde o convidado – deixou de existir, desintegrou-se. A minha pátria era a Polónia e Viena, esta casa e o quartel na cidade, Galícia e Chopin. O que ficou de tudo isso? Aquilo que uniu as partes, aquele elemento misterioso de ligação que já não faz efeito. Tudo se desagregou, caiu em pedaços. A minha pátria era um sentimento. Esse sentimento foi ofendido. Nesse caso, uma pessoa vai-se embora. Para os trópicos, ou para mais longe.
- Mais longe, onde? – pergunta o general friamente.
- No tempo.”


- pág 70, As velas ardem até ao fim, de Sándor Márai, Dom Quixote


PS: Agora que acabei o livro gostava de vos dar um pedacinho mais do fim, mas não posso, senão estrago a história.

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