segunda-feira, janeiro 30, 2006

Também ando a ler contos...

“ Então ressoou um longo estrondo de catástrofe, mais tenebroso que os anteriores e ainda mais próximo. Uma tenaz gelada fechou-se sobre o coração dos Gron.
«Oh, não! Não!» recomeçou a senhora a gritar. «Não quero, não quero!». Também ela pálida como a morte, com uma ruga dura a marcar-lhe o rosto, avançou em passos ansiosos para o cortinado que palpitava. E fazia que não com a cabeça, querendo dizer que proibia que aquilo acontecesse, que agora acordaria ela em pessoa e a água não se atreveria a passar.
Viram-na afastar as pontas esvoaçantes da cortina com um gesto de ira, desaparecer do lado de lá no escuro, como se fosse correr com um bando de pedintes maçadores que a criadagem era incapaz de afastar. Com o seu aristocrático desdém supunha que conseguiria opor-se à catástrofe, intimidar o abismo?
Desapareceu atrás do cortinado, e embora o estrondo funesto fosse cada vez maior, pareceu que se fizera silêncio.
Por fim, Massigher disse: «Alguém bate à porta.»
«Alguém bate à porta?», perguntou Martora. «Quem pensa que seja?»
«Ninguém», respondeu Massingher. «É claro que agora já não há ninguém. Contudo, batem à porta, isso é certo. Talvez um mensageiro, um espírito, uma alma que veio avisar. É uma casa senhoril, esta. Por vezes têm essas deferências, os do outro mundo.»”


-pág 68, conto Contudo Batem à Porta publicado no livro Os sete mensageiros de Dino Buzzati, Cavalo de Ferro

1 comentário:

Anónimo disse...

este livro é muito bom, é. assim como o deserto dos tártaros, do mesmo autor :) é por estas e por outras que a cavalo de ferro mora no meu coração :)

.j.