quinta-feira, fevereiro 02, 2006

a conversa

“Havia um mundo mecânico, algébrico, científico onde eu não tinha lugar e onde nunca poderia penetrar, essa foi a grande lição que me deixaram os anos de aprendizagem no Liceu. Surgia um limite de compreensão em determinado sentido, onde apenas podia maravilhar os resultados e nunca perscrutar as essências. Foi precisamente essa intransigência que pus perante mim próprio (...). Lembro-me sempre da conversa do Almada Negreiros ao visitar determinado ministro que o havia chamado para tratar de assuntos referentes aos seus trabalhos murais:
«Senhor Almada Negreiros sabe que os painéis...»
O Almada estava calado.
«Senhor Almada Negreiros compreende que o pagamento não é o que tem mais importância uma vez que foi atribuído a um conhecido artista nacional. Não é isso que quero discutir com o senhor nesta ocasião. Mesmo creio que havemos de encontrar uma fórmula para ir ao encontro dos seus desejos e ao contrato. Agora o ponto principal é o seguinte: a arte daqueles painéis, dos frescos que pretende executar e de que me enviou os cartões...»
«Perdão, Senhor Ministro, deve haver um equívoco, Arte é comigo».
Esta resposta creio fundamental para a compreensão e estudo da vida portuguesa. É uma resposta genial.”

Pág 148, O mundo à minha procura de Ruben A., Assírio & Alvim

PS: É engraçado como se arrasta a leitura do último capítulo de um bom livro, como que a pedir que não acabe.

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