Há uma pessoa com quem sempre tive assim uma relação muito estranha, sabem? Oh, pá, aquela coisa do estão os dois ali, frente a frente, e o silêncio dá aquela sensação de constrangimento e aquilo não ata nem desata, e à volta toda a gente conversa sobre as maiores banalidades, e depois de um sorriso e meio vão os dois embora e ficam aquelas frases do “pois é, hoje tá frio”...ou a outra, que também tem muita piada, a do “hum, hum, é a vida!”. Eu gosto particularmente da outra do “então, que contas?”, mas essa tem uma esperança de vida um bocado curtinha e, muito honestamente, no nosso caso em particular, também nunca funcionou.
Bem, eu reproduzo para não acharem que estou a exagerar:
- Então, por aqui? (olhar em redor para verificar se a conversa constrangedora é mesmo necessária ou se há escapatória à vista, que eu já sei como isto é)
- Pois é...E tu?
- É...Cá estamos... (e começa...mãos nos bolsos...um ligeiro abanar de cabeça e quando já vejo o encolher de ombros, introduz-se a frase desbloqueadora nº2) Então, que contas?
- Pá...
- Hum, hum...(e agora ficas-te por aqui, não é? “Pá...” e mais nada. Sacana...Ok. Ok. Alguém há de vir dizer-me que já não nos vemos há muito tempo e actualizamos uns números de telefone)
Eu, micas maria, que nunca tive grandes social skills, como é do conhecimento geral, sempre achei que havia ali coisas não ditas. Podia não incomodar, de facto, até podia. Mas era como diz o outro – fazia comichão. Pá, hoje fez-se luz e foi tão giro. Estava ali, como de costume, a encolher os ombros, e afinal é simples. Muito simples até: nós não temos nada para dizer um ao outro.
E estou muito mais aliviadita, que eu cá não gosto de mal entendidos...