A ler...
“Falta pouco, porque em breve cairá um bom aguaceiro. Quando isso acontecer, uma bandeira vermelha ficará molhada e a sua cor ligeiramente desbotada. E então esta história terminará. Dentro de minutos, Olga e Benito sairão à rua e então vai chover. Tenho a certeza de que assim será. Chove sempre que se vão embora. Desbotar-se-á a cor vermelha da sua festiva bandeira. Não o poderei ver, porque isso acontecerá já fora de casa e o meu ponto de vista é limitado, é o ponto de vista do mais humilde mosquiteiro de Meudon. Mas sem dúvida choverá. Então fantasiarei à vontade especulando sobre o que possa estar a passar-se fora de casa. Mas não vos poderei contar mais nada. Especularei, inventarei em rigoroso silêncio. Dizem que a fantasia é um lugar onde chove sempre.”
- pág.37, Filhos sem Filhos de Enrique Vila-Matas, Assírio & Alvim
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